Os efeitos negativos da pandemia causados pelo covid-19 tem feito boa parte da população global passar por momentos delicados e os novos milionários da tecnologia tenta adotar uma postura menos extravagante.
As ofertas públicas de ações (IPO) e a ascensão de novos milionários ligados à tecnologia estão maiores e mais barulhentas do que nunca. Mas, durante a pandemia, os novos ricos do Vale do Silicio não estão comemorando com as tradicionais festas e aposentadorias precoces para viajar pelo mundo.
Nos últimos seis meses, pelo menos 35 empresas fundadas na área da baía de São Francisco – entre elas Airbnb, DoorDash e a empresa de armazenamento de dados Snowflake – abriram capital por um valor de mercado combinado de US$ 446 bilhões, segundo o New York Times. Os “períodos de lockup” dessas empresas, que impedem os funcionários de vender a maior parte de suas ações logo após um IPO, irão expirar nos próximos meses, desencadeando uma onda de riqueza.
Um pequeno punhado desses IPOs poderia cunhar cerca de 7 mil milionários, de acordo com uma análise da EquityBee, plataforma que facilita as transações de capital. O fluxo de IPOs tem sido grande o suficiente para que sua receita de impostos possa acabar com parte do déficit orçamentário projetado da Califórnia.
Em comparação com booms anteriores, há “mais gratidão”, explica Aaron Rubin, sócio da Werba Rubin Papier Wealth Management.
Quando a pandemia chegou, um ano atrás, os executivos de tecnologia se preocuparam com a possibilidade de suas ações nunca renderem o esperado. O solavanco – e ansiedade geral com a economia – até agora os desencorajou a fazer os tipos de ostentação que costumam acompanhar fortunas que surgem da noite para o dia, disse Rubin. “Podem até comprar um Tesla novo ou um carro conversível, mas não saem por aí comprando aviões”, diz.
As festas são no Zoom, a conversa sobre impostos está no Slack, a compra de casas anda um pouco menos intensa e o clima é de cautela. É uma época estranha para ficar rico.
“A mentalidade das pessoas não pode ser de ostentação”, disse Riley Newman, que foi um dos primeiros funcionários do Airbnb, empresa que abriu o capital em dezembro e imediatamente atingiu US$ 100 bilhões em valor.
As pessoas mudaram o foco das casas de férias e dos carros chamativos para casas suburbanas e escolas, disse Newman, que agora dirige a Wave Capital, uma empresa de capital de risco. “Está simplesmente diferente”, acrescentou.
Caixa gourmet
Antes da pandemia, quando startups abríam capital, os executivos comemoravam com esculturas de gelo em forma de foguete e bandas dos anos 1980. Agora, as empresas estão mandando aos seus funcionários caixas de festa para as reuniões no Zoom.
Daniel Figone, dono da Handheld Catering and Events, recentemente entregou jantares e lanches embalados nas casas de vários trabalhadores de empresas do Vale do Silício que abriram capital. As caixas – que custam de US$ 45 a US$ 100 cada – podem trazer produtos caseiros, sais marinhos, mistura de cacau quente, queijos sofisticados, frutas e champanhe. Além disso, estavam incluídos cartões impressos parecidos com convites de casamento detalhando o código de login para uma reunião no Zoom.
Os altos executivos ganham ainda mais: arranjos florais, refeições de três pratos e um chef no local para terminar o preparo, disse Figone. Em algumas pequenas reuniões ao ar livre, ele ofereceu “casquinhas” individuais cheias de lanches, em vez de bufês e aperitivos.
Mas as celebrações no Zoom de todas as empresas podem ser muito parecidas com as reuniões no Zoom de todas as empresas. Então, as empresas também estão adicionando perguntas e respostas virtuais com autores famosos ou membros do elenco do ‘Saturday Night Live’, palestras inspiradoras de palestrantes do TED e até sessões de meditação em grupo conduzidas por praticantes famosos.
Quando tem algum músico – Alicia Keys , Train e John Legend são os principais pedidos – a apresentação se limita a uma ou duas músicas, disse ele.
Gastos diferentes
De fato, os novos ricos estão gastando de maneiras muito diferentes. Em vez de arte, eles estão comprando NTEs, ou seja, tokens não fungíveis que representam a propriedade de peças de arte digital, memes ou artefatos da história da internet.
Em vez de viajarem pelo mundo, eles estão se amontoando em vans Sprinter. Em vez de looks de grife, eles estão buscando roupas que fiquem bem nas ligações do Zoom, aulas de maquiagem virtual para a câmera e reformas para os fundos de Zoom.
Eles também estão comprando presentes de “conforto” para amigos e familiares, como cobertores e roupões aconchegantes, itens de cuidados com a pele, pijamas e jogos. E, em vez de apartamentos de luxo, eles estão atrás de casas com espaço ao ar livre, academias caseiras e boas “salas de Zoom”.
J.T. Forbus, gerente tributário da Bogdan & Frasco, uma empresa de contabilidade de São Francisco, disse que seus clientes têm evitado a ostentação. Sua maior despesa, além da casa, é com o consultor financeiro.
“Quando eles enlouquecem e gastam, é para investir em criptografia”, disse Forbus, referindo-se às moedas digitais.
Caridade
No ano passado, quando o Airbnb abriu capital, ex-funcionários iniciaram o Equity for Impact, um programa no qual os funcionários se comprometem a doar uma parte não especificada de seus rendimentos de IPO para instituições de caridade. Até agora, mais de 400 pessoas comprometeram cerca de US$ 50 milhões em ações, o que está a meio caminho da meta do grupo para o momento em que o período de bloqueio do Airbnb expirar, em junho.
O foco na caridade nesse momento de sorte inesperada é uma mudança em relação às ondas passadas de novos ricos, disse Forbus.
“Eles vão ter uma dedução de impostos, claro”, disse ele. / TRADUÇÃO DE RENATO PRELORENTZOU
Créditos: Por Erin Griffith – The New York Times / Fonte: Estadão