Sinal 5G disponível em BH foi marcado por diferença de percepção da qualidade do serviço
Moradores relatam desconhecimento, instabilidade e falta de sinal em alguns bairros da capital
O primeiro dia do sinal 5G disponível em BH foi marcado por diferença de percepção da qualidade do serviço entre moradores de alguns bairros da capital. Alguns relataram não saber que o sinal começaria a funcionar nesta sexta-feira (29/7), outros não conseguiram acessá-lo em seus aparelhos e alguns notaram a diferença de velocidade de navegação.
Inicialmente, o serviço está disponível em 73 bairros de BH por meio das operadoras Claro, Vivo e Tim. A promessa é de mais velocidade de navegação e conexão mais estável. Além disso, também prevê uma capacidade maior de conexão simultânea, podendo incluir milhares de dispositivos sem que isso prejudique a qualidade da rede, além de taxas de agilidade superiores. A previsão é que até 2025, toda a capital terá acesso ao sinal, de acordo com a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel).
A estudante Laura Calixto, de 12 anos, é moradora do bairro Vila da Serra, em Nova Lima, mas estava fazendo compras no Belvedere, Região Centro-Sul, com a mãe. O celular dela ainda não estava pegando o sinal 5G, em uma galeria na Avenida Luiz Paulo Franco, porém ela diz que já experimentou a tecnologia. “Eu sempre vou para o Rio e lá já pega. Já consegui perceber que realmente é mais rápido. Sempre assisto vídeos e parece que eles rodam em uma qualidade melhor. A internet é mais rápida.”
A jovem conta que consome conteúdos no Instagram e nesta rede social não notou tanta diferença. “Percebi mais no Youtube e quando vejo séries no celular. Com o 4G dependendo da qualidade do vídeo, ele demora um pouco para carregar já com o 5G ele carrega direto.” A estudante está ansiosa para a tecnologia chegar ao bairro onde mora.
Sinal com bom funcionamento
Já a também estudante, Nicole Dias de 17 anos, moradora do Belvedere começou a usufruir da nova tecnologia. Segundo ela, o sinal está funcionando bem, embora às vezes não consiga perceber muita diferença para o 4G. “Dá uma diferença pequena, não é uma coisa absurda, mas funciona legal. Às vezes eu percebo que é mais rápido para carregar páginas na internet, o Instagram funciona melhor, o Tik Tok também carrega bem mais rápido.”
Nicole diz esperar que a tecnologia evolua mais com o passar do tempo e as pessoas nem vão saber mais como viviam com o sinal 3G, por exemplo. “A gente fica cada vez mais dependente de tecnologia. Quando pensamos há dez anos, muita gente não tinha celular, era uma outra realidade. Quando eu penso que não poderia mandar mensagem para minha mãe ou conversar com um amigo que mora no exterior. A gente não percebe essas coisas até olhar para trás.” Ela acredita que com o 5G vai acontecer o mesmo.
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Outro ponto levantado pela estudante é a falta de acesso do sinal pela maioria da população. “Facilita muito a nossa vida, mas muita gente pode não ter acesso, o que causa uma divisão. É uma tecnologia cara e nem todo mundo vai conseguir pagar.”
Sem sinal
No bairro Floresta, Região Leste, muitos moradores relataram à reportagem do Estado de Minas que os celulares não estão captando o sinal 5G. Entre eles, o empresário Bruno Zucherati, de 33 anos. Ele não sabia que a tecnologia estaria disponível a partir de hoje na capital.
Demorar para sentir a diferença
A comerciante, Chambela Brás, de 41 anos, moradora do bairro Funcionários, Região Centro-Sul, era outra que não sabia que o sinal de 5G estaria disponível a partir de hoje. Ela também diz que não é muito ligada em tecnologia, mas há três meses comprou um celular novo com compatibilidade para o sinal 5G.
“Comprei justamente pensando em já estar atualizada. Tanto a TV quanto a linha de telefone já têm liberação para 5G. Hoje ainda não percebi mudança, mas vou reparar.” A comerciante conta que não acessa muitos conteúdos em vídeo pelo smartphone, apenas aplicativos de banco e Whatsapp.
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Já a irmã dela, a também comerciante Isabela Brás, de 78 anos, disse que experimentou a nova tecnologia, mas não percebeu tanta diferença assim. “Pra mim continua normal. Acredito que vai demorar um pouco para a população em geral sentir diferença. Não somos pessoas muito tecnológicas, não temos essa urgência. Baixando o vídeo, assistindo, finalizando a compra pela internet, ok.”
Isabela diz acreditar que as operadoras vão demorar um tempo para implementar totalmente a tecnologia. “O celular da minha irmã estava pegando o sinal e agora já não está mais. Tem uma instabilidade e não é uma urgência da população em geral.”
Ela relatou ainda que durante a manhã, nem o sinal 4G estava funcionando perfeitamente em seu aparelho. “Normalmente, quando a conexão está ruim, os vídeos do Instagram travam. E hoje aconteceu, de manhã.”
Isabela destaca ainda que, assim como outros serviços, o 5G só vai funcionar corretamente se houver fiscalização e cobrança por parte dos consumidores. “Acho que vai melhorar, mas quando tiver um pico de pessoas usando diminui a qualidade.” Ela lembra que as operadoras de telefonia são campeãs de reclamações e, mesmo assim, continuam prestando um serviço que classifica como péssimo.
“Sabemos que em outros lugares do mundo, a internet nem é paga e funciona muito melhor. Se não tiver fiscalização, cobrança e o respeito da empresa com o consumidor, acho que vai ser muita fumaça e pouco fogo.”
A comerciante teme ainda que os sinais de 3G e 4G percam a qualidade para forçar os consumidores a aderir a tecnologia 5G. “Não vamos ter nem a possibilidade de escolher”, finaliza.
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Apenas 5% dos aparelhos com 5G puro
A Anatel afirma que a informação de compatibilidade do celular com a rede de cada operadora deve ser buscada junto à própria operadora, inclusive sobre a necessidade ou não de troca de chip.
A empresa informa ainda que, segundo estimativa, apenas 5% dos aparelhos em uso pela população são compatíveis com a tecnologia 5G Standalone (o 5G puro). De acordo com a Anatel, esse número deve crescer bastante, uma vez que as fabricantes de celular estão ampliando a quantidade de aparelhos compatíveis.
Segundo o professor Álvaro Machado Dias, futurista e professor livre-docente da UNIFESP, além de sócio da WeMind Escritório de Inovação, a implementação do 5G não acontece toda da mesma maneira. “Existe uma diferença entre utilizar a parte central da estrutura de gerenciamento computacional do 4G (mais especificamente, do famoso 4.5G) para o 5G e ter uma estrutura dedicada a este último. Chamamos os dois modelos, respectivamente, de non-stand alone (NSA) e stand alone (SA).”
Ele explica que o SA se diferencia por velocidades superiores e latências inferiores. “Também se destaca pelo fato de que preserva melhor o sinal quando muita gente está acessando uma rede simultaneamente, isto é, maior densidade de sinal. Porém, indo do conceitual para a prática, as coisas se tornam mais complexas já que o SA com faixa espectral inferior será pior do que o NSA com faixa mais alta (50 vs. 100MHZ, por exemplo); ou seja, começar pelo NSA não representa estratégia ruim ou lesiva.”
Dias ressalta ainda que nem todos os aparelhos celulares estão prontos para acessar as redes SA. “Os poderosos Iphone 13 da Apple, por exemplo, vão precisar de uma atualização ainda não disponibilizada para tanto – além, da troca de chip.”
Democratização do acesso ao 5G
O principal gargalo para o acesso às redes 5G é o hardware, segundo o professor da UNIFESP. “Os aparelhos capazes de fazê-lo tendem a ser mais novos e caros do que os que só atingem o 4G. Neste sentido, a primeira etapa da implantação não deve ser caracterizada por ampla fruição das vantagens propiciadas pela grande massa dos consumidores.”
“Infelizmente, não há muito o que fazer sem piorar as coisas. A perspectiva é que, com o tempo, os modems 5G se tornem dominantes e o novo padrão se estabeleça com a mesma penetração – ou até maior – do que a do 4G na atualidade”, conclui.
FONTE: EM/Mariana Costa
FOTO: Gladyston Rodrigues/EM/D.A Press
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