“Apocalipse financeiro iminente: A crise está prestes a se espalhar pelo sistema financeiro global?”
Apesar da queda registrada nas bolsas na última quarta-feira e da turbulência no Credit Suisse, bem como da quebra do Silicon Valley Bank (SVB) e do Signature Bank, os analistas ouvidos afirmam que esses acontecimentos ainda não têm o potencial de causar uma crise financeira global como a de 2008. Para eles, esses eventos são consequências de más administrações nas instituições financeiras e de uma mudança no nível de liquidez internacional.
O economista Sergio Vale, da MB Associados, afirma que a situação atual é diferente de 2008, que foi uma crise sistêmica e muito mais grave. Agora, são crises em bancos que foram mal conduzidos e que estão pagando o preço por isso.
No caso do Silicon Valley Bank, por exemplo, o banco investiu grande parte do dinheiro dos clientes em títulos de longo prazo do Tesouro americano. Com a inflação elevada nos Estados Unidos, o Federal Reserve começou a elevar a taxa de juros e, assim, títulos emitidos mais recentemente começaram a oferecer melhores retornos. Ao mesmo tempo, muitos clientes passaram a sacar seus recursos porque o financiamento para empresas de tecnologia secou. Assim, o SVB se viu obrigado a se desfazer de títulos do Tesouro quando eles perdiam valor.
Felipe Salles, economista-chefe do C6, destaca que a regulação do sistema bancário americano hoje é mais robusta do que a de 2008 e as instituições estão mais capitalizadas agora, o que dificulta um colapso como o ocorrido 15 anos atrás. Salles diz ainda que o problema agora parece estar restrito a bancos de menor porte.
Os economistas avaliam que, no caso do Credit Suisse, poderia haver um risco maior de contaminação dado o porte do banco. Mas o potencial de destruição que um colapso de uma instituição financeira como o Credit pode causar também faz com que seja mais provável um resgate conjunto por parte dos governos suíços e de autoridades monetárias europeias. No entanto, o economista Nouriel Roubini alertou que o Credit Suisse “pode ser grande demais para quebrar, mas também muito grande para ser salvo”.
Em resumo, os analistas afirmam que o contexto da crise do banco europeu é distinto do de 2008 e que não há a alavancagem que havia no passado, quando produtos criados por bancos a partir de empréstimos feitos no setor imobiliário eram revendidos como se fossem de baixo risco.
Campos Neto, da Tendências Consultoria, argumenta que o impacto no Brasil dependerá dos desdobramentos dos próximos dias e semanas. Ele observa que o mercado de crédito brasileiro já estava enfrentando dificuldades devido à crise nas Américas e ao aperto monetário. “Já havia problemas conhecidos que indicavam um crédito mais caro. Agora, temos esse novo fato, mas é difícil avaliar seu impacto.”
Salles, economista-chefe do C6, destaca que possíveis impactos poderiam ocorrer se os bancos centrais dos Estados Unidos e da Europa decidirem cortar as taxas de juros precocemente. No entanto, Salles acredita que ainda é cedo para isso acontecer.
Foto: Justin Sullivan/Getty Images via AFP
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