O que pode acontecer com Americanas após rombo de R$ 20 bilhões
Americanas: após rombo de R$ 20 bilhões e queda drástica na Bolsa, o que pode acontecer com a empresa?
Um rombo de R$ 20 bilhões foi anunciado pela Americanas S.A. após fechamento do mercado nesta quarta-feira (11). O caso repercutiu também com a saída de Sergio Rial, CEO da empresa, que deixou o cargo após 10 dias empossado, seguido de André Covre (diretor financeiro e de relações com investidores), que também “abandonou o barco”. Apesar de a Americanas não ter ainda a dimensão do impacto real do rombo, segundo seu comunicado oficial, analistas avaliam que a holding brasileira pode ter tempos turbulentos pela frente.
No fim da manhã desta quinta-feira (12), a empresa já viu o início desta tempestade: as ações da Americanas foram a leilão na B3, com ativos valendo R$ 3 após queda de 75% na valorização. Na noite de ontem, o fechamento registrava o valor de R$ 12.
Há 3 tipos de leilão na B3: de abertura – para definir o preço -, o de fechamento, que acontece antes do mercado fechar por completo, e os extraordinários. Neste caso, vivido pela Americanas, as negociações em ativos são suspensas quando há fatos relevantes, alguma movimentação atípica de volume financeiro em relação aos dias anteriores ou ativos entrando em leilão que fogem da oscilação comum, para cima ou para baixo.
Com patrimônio avaliado em R$ 14 bilhões, Leo Dutra, analista-chefe da Invius Research, avalia que a capitalização é o único caminho para recuperar a empresa. A IstoÉ Dinheiro conversou com dois especialistas para explicar o caso. Veja a seguir:
A empresa pode sofrer mais quedas? Será preciso capitalizar?
Com a descoberta dessa inconsistência, divulgada no comunicado oficial, o que se espera é que a Americanas esteja na verdade muito mais ‘alavancada’ do que os investidores imaginavam: ela estava operando valores maiores do que realmente tinha no seu patrimônio, segundo Dutra.
“Levando isso em consideração, prevemos uma queda das ações. Nos Estados Unidos, onde a empresa opera com ADR’s (papéis de empresas locais negociadas no exterior), a companhia já sofreu uma queda de quase 30%”, diz o analista.
A empresa tem nível de endividamento muito maior do que o esperado, fazendo com que boa parte da receita futura deva girar para bancar esse endividamento, tendo menor investimento e, consequentemente, menor crescimento. “É uma empresa de capital intensivo, com necessidade de investimento para seguir nas operações. Assim, se espera que inicie um processo de capitalização bilionária“, explica.
O valor salta aos olhos: o rombo chegou a R$ 20 bi. Podemos considerar um roubo?
Conforme falaram os especialistas, ainda é cedo para usar o termo ‘roubo’, já que pouco se sabe da origem do ‘vácuo’ dos valores. “O Conselho de Administração da Americanas criou um comitê independente para apurar as circunstâncias que ocasionaram tais inconsistências contábeis. Será importante avaliar os procedimentos internos de controle, questões de governança, interpretações fiscais e contábeis, dentre outros aspectos”, afirma Gustavo Herkenhoff Moreira, Professor e Coordenador dos MBAs de Finanças do Ibmec.
“Os detalhes e as causas ainda são escassas. Não só isso, mas a contabilização pode estar se arrastando por vários períodos. Ainda é cedo para discutir se houve uma interpretação dúbia, fraude ou qualquer outro diagnóstico, mas, certamente, merece uma análise rigorosa”, finaliza o professor.
O que seriam inconsistências contábeis, mencionadas pelo comunicado da Americanas?
Segundo o comunicado divulgado ontem pela empresa, essas inconsistências contábeis seriam um valor que pode chegar a R$ 20 bilhões. “Isso teria sido identificado no balanço das Lojas Americanas e a descoberta está centrada em uma dívida da empresa com seus fornecedores, que pode ter sido subestimada ao longo dos últimos anos”, explica Dutra.
Levando em consideração as informações oficiais, segundo o que foi divulgado e a investigação preliminar, o que teria ocorrido é a falta de pagamento da parte das lojas Americanas, afirma Moreira.
“Se trata de um tipo de operação em que um banco paga o fornecedor da companhia e ela passa a dever diretamente a ele. Ou seja, neste momento, a Americanas está devendo R$ 20 bilhões para o banco que realizou este pagamento aos fornecedores”, esclarece.
“As estimativas acima estão sujeitas a confirmações e ajustes decorrentes da conclusão de trabalhos de apuração e dos trabalhos a serem realizados pelos auditores independentes, após isso será possível determinar adequadamente todos os impactos que tais inconsistências terão nas demonstrações financeiras da Companhia”, informou a Americanas via comunicado oficial.
FONTE: ISTOÉ DINHEIRO/ Edda Ribeiro
FOTO: INTERNET
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